O saquê é um dos três alimentos mais adorados pelos japoneses (os outros dois são o chá e o moti, um bolinho de arroz) e sua história começa no período Yayoi no Japão (300 a.C. a 300 d.C.). Naquele tempo, o arroz era fermentado pela saliva feminina, sendo cuspida pelas jovens virgens em tachos, e a bebida ainda não se chamava saquê, mas Ki.
No início, a bebida era reservada aos nobres e às classes altas da sociedade, pois sua produção era escassa. Há um provérbio xintoísta que diz que os deuses adoram beber saquê. E nas festividades, era comum beber até quase cair, já que se acreditava que o espírito elevado pela bebida podia entrar em contato com os deuses. Bom motivo pra um porre, hehe! A "festa" durou até o século VI, quando a disseminação do Budismo pelo país proibiu o saquê nas festividades e os monges passaram a tomar apenas chá.
Dessa forma, criou-se uma relação da bebida bem interessante:
Saquê > Salgado >Xintoísmo >Não coticiano >Masculino
Chá >Doce >Budismo >Cotidiano >Feminino.
Ou seja, quem come doce geralmente não toma saquê. O que talvez explique porque os grandes experts da bebida não gostem de doces. Outra curiosidade que aprendi é que quando comemos sushi não devemos tomar saquê e sim chá, pois os dois alimentos são provenientes do arroz, o que cria uma relação de oposição. O saquê só deve ser apreciado com sashimi (peixe cru), e lá se vão anos comendo sushi com saquê, né?
Há três importantes regras de etiqueta para o consumo de saquê em restaurantes japoneses:
• É de bom tom uma pessoa servir a outra, antes de colocar a bebida no próprio copo.
• O saquê servido em cálices de cerâmica deve ser segurado pela mão direita e apoiado na mão esquerda.
• Não se deve inclinar para beber o saquê: a bebida deve ser sempre levada à boca.
No Japão, não é considerado falta de educação ficar bêbado em bares de petiscos, os izakayas, locais onde os trabalhadores se reúnem para beber após o expediente. Já nos restaurantes tradicionais, a embriaguez deve ser evitada.
Minha primeira bebedeira com saquê foi no lugar mais inusitado possível: no Epcot Center. No pavilhão japonês do World Showcase me deliciei com meus primeiros sushis de camarão empanado (uma novidade na época) e um drinque chamado Samurai que descia tão bem que quando me dei conta, já havia tomado boa parte do meu orçamento do dia com a bebida. Percorri o resto do trajeto levinho, levinho, até chegar a Paris com sua torre Eiffel em miniatura, onde rebati a ressaca com um bom vinho francês. Uh-la-lá...
De volta ao Brasil, não consegui a receita original, mas acabei achando um drinque bem parecido que foi a sensação em uma festinha lá em casa. O nome? Tokyo Cosmo, puro estilo!